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Texto da entrada (ID.587)

Receberam-se noticias da expedição Charcot, partida em 16 de dezembro para a exploração do pólo antarctico.

Despachos de Punta Arenas dão já informações sobre os resultados da expedição. Os tripulantes do navio “Porquoi-pas?” gozam em geral saude, estando apenas alguns affectados do escorbuto, mas nenhum d’elles gravemente.

Póde dizer-se que a expedição Charcot cumpriu perfeitamente o programma que se impôz, tendo realisado trabalhos scientificos de verdadeira importancia, não sem arrostar com perigos sérios. Pôde completar a carta geographica franceza até à ilha Adelaide, alem d’isso descobriu umz extensa ilha, que mede umas 70 milhas, e chegou emfim, até ao territorio de Alexandre.

Uma boa parte das terras percorridas pela expedição Charcot são completamente estereis e não offerecem abrigo de especia alguma, p. 2 pelo que os expedicionarios se viram obrigados a invernar em Peterman. O inverno foi relativamente suave, mas o mau tempo occasionou muitas avarias no navio.

No emtanto realisaram-se algumas excursões parciaes de grandissimo interesse scientifico. Na segunda étape da exploração presseguiu caminho para o sul, descobrindo algumas novas terras ao oéste e ao sul do territorio de Alexandre, chegando até ao grau 126 de longitude oéste.

Um despacho de Punta Arenas diz que o navio “Pourqoui-pas?” demonstrou ter verdadeiras condições para as expedições polares, pois resistiu a temporaes furiosos. Charcot foi obrigado a dar por concluida a viagem unicamente pela falta de carvão e pela fadiga propria e dos seus companheiros.

Um dos primeiros cuidados de Charcot, mal pôz os pés em terra americana, foi telegraphar ao tenente Shackleton, felicitando-o pelo seu regresso a Londres da sua estupenda viagem aos gêlos antarcticos. Shackleton retribuiu com outro despacho, felicitando-o igualmente pelo seu regresso aos paizes civilisados.

Entrevistado Shackleton sobre o merito da expedição de Charcot ao pólo sul, respondeu n’estes termos:

“É preciso recordar que Charcot não se propunha descobrir o polo. Queria, sim, avançar, até elle o mais possivel. Posto que faltem ainda os pormenores, pode-se declarar desde já que a expedição Charcot augmentou os conhecimentos scientificos relativos às regiões antarcticas.

Um ponto interessante é o referente a ter Charcot unido com toda a evidencia o littoral da peninsula de Grabam-Leand com o da terra de Alexandre I. Até agora os campos de gêlo, tinham impedido que os barcos se aproximassem d’essa região. A descoberta de uma nova terra ao oéste e ao sul da terra de Alexandre une esta parte do continente á Terra de Eduardo VII.

O explorador belga Gerlache, que ia a bordo do “Belgica”, foi aprisionado pelos campos de gêlo muito mais ao oéste. Por isso é da mais alta importancia determinar exactamente longitude e a latitude d’essa nova terra. Nenhum navio ainda attingira a latitude alcançada pelo “Pourquoi-Pas?”.

Os geographos esperam com interesse que o dr. Charcot lhes explique as particularidades d’essa região do Antarctico. Serão sem duvida interessantissimos os pormenores relativos à geologia. É provavel que tenham sido encontrados fosseis analogos aos descobertos pela expedição sueca no outro lado da peninsula.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "A expedição Charcot" in Diário dos Açores de 7 de Março de 1910, nº. 5612, p. 1-2 (col. 6; 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=587.



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Ciênias da Terra

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