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Texto da entrada (ID.620)

O reputado astronomo José Comas Solá, director do Observatorio da Fabra, e cuja autoridade é reconhecida pelos astronomos de toda a parte, acaba de publicar interessantes informações ácerca do cometa de Halley.

Segundo elle, a partir de 1 do corrente o cometa de Halley é astro da manhã, sahindo pelo horisonte do oriente, uma hora antes do nascer do sol; a 1 de maio sahirá quasi umas duas horas antes de nascer o sol.

No corrente mez o cometa será visivel á simples vista até quasi a 19 de maio, dia da conjucção inferior com o sol; mas a situação do cometa, um pouco austral, não será muito boa para as nossas latitudes. Passada a conjucção de 19 de maio, voltará a ser astro da tarde, e então, em muito boas condições, poderá de novo observar-se á simples vista.

Os calculos primeiramente feitos foram um pouco retocados, porque então, de momento, era impossivel ober absoluta precisão, tratando-se de orbitas cometarias.

“Ha tempos, diz Comas Solá, fallei da probabilidade da passagem da terra pelo meio da cauda de Halley; n’esse occasião occupei-me da segurança da passagem, ainda que não central. Hoje, apuradas mais as correcções pelas observações realisadas, póde assegurar-se que a referida passagem será sensivelmente central.

Certo agora de que a passagem da terra será central, resulta tambem que a terra passará, afastada do nucleo do cometa, cerca de dois milhões de kilometros mais do que se tinha calculado antes; mas dois milhões de kilometros, tratando-se de uma cauda que provavelmente terá mais de 50 milhões de longitude, pouco alterará as condições especiaes d’este transito.

Devo advertir, de passagem, que se tem publicado em alguma revista estrangeira referente ao transito do planeta Venus na cauda do cometa, em condições mais intimas do que para a terra, é erroneo. Quando para Venus o cometa estiver em conjuncção inferior com o sol, distará bastante da linha dos nodos da orbita de Venus, de maneira que a prolongação não passará por esse planeta muito provavelmente.

Continuarei o estudo dos phenomenos que poderão observar-se na noite de 18 a 19 de maio, estudos que serão sempre interessantissimos, porque se não se observar nada (refiro-me à luminosidade da cauda, á chuva de estrellas, etc., e não a envenenamentos que, com a mais absoluta segurança, não occorrerão), será tambem interessantissima esta observação negativa.

Refiz os calculos dos phenomenos de todas as ordens que pódem occorrer durante essa passagem. Boa parte d’elles já os expuz; mas se é certo que, attendendo a novas observações, resulta sem incremento a quantidade de gazes que poderiam introduzir-se na atmosphera terrestre, suppondo que não existisse nenhum obstaculo para que estes gazes penetrassem n’ella, ainda assim, e ainda que multiplicasse por mais de mil essa quantidade, a vida terrestre não experimentaria a menor perturbação.

Não posso desenvolver aqui, pela sua excessiva extensão, a base d’estes calculos, mas, serão objecto de um trabalho especial que se publicará breve, e no qual, de uma maneira scientifica, offereço ao publico as suas conclusões. E tenho a confiança de que o publico se sentirá mais tranquilo, repassando esses calculos.”

Conclue dizendo que da discussão d’este acontecimento astronomico não só não resulta o menor perigo, mas que ainda que as condições fossem milhares de vezes peores para a terra, tambem não haveria nenhum.

O “Petit Journal” de 12, dedicou o seu artigo editorial ao sensacional acontecimento que se prepara para 18 de maio proximo, ás 5 horas da tarde.

O seu redactor Henry Spont, dá ali nota ao milhão e meio de leitores da folha parisiense da opinião do celebre astronomo abbade Moreux sobre o assumpto.

D’esse interessante artigo, publicamos o seguinte:

“Quando falo do encontro do cometa, com a Terra, é simplesmente maneira de falar. Os dois astros, que não giram no mesmo sentido, encontrar-se-hão a 22 milhões de kilometros. Para planetas, a distancia é pequena, porque tudo é relativo e no espaço, os milhões de kilometros, não contam.

Mas se o nucleo do cometa deve poupar-nos, poderá ser que a cauda nos envolva ou por outra que nós penetremos durante duas horas a sua atmosphera.

Ora, as caudas dos cometas attingem por vezes, extensões inverosimeis, a julgar apenas pela do de 1843, que media pelo menos, duas vezes a distancia da Terra ao Sol.

Além d’isso, a atmosphera d’estes astros contem carboreto de hydrogenio, azoto, uma quantidade de elementos de que a sciencia não poude ainda determinar exactamente a composição. Esta atmosphera rarificada seria provavelmente cruel para os nossos pulmões, apesar de ser prematuro affirmar que contenha gazes venenosos.”

(...)

“O nucleo do cometa, não nos attingirá e a sua cauda, mesmo se nos tocar ao de leve, será inoffensiva”

Mas, supponhamos que o nucleo chegasse a ter contacto com a terra! Um projectil de 278 biliões de toneladas, carregando sobre Paris, com uma velocidade de 60 kilometros por segundo!

Que abominavel cataclismo, que esmagamento!

Seriamos instantaneamente pulverisados, reduzidos a migalhas, em pó. Seria então o fim do mundo, para nós, pelo menos, ou para os milhões de entes habitada a parte exposta ao choque. Porque a Terra, não seria completamente aniquilada. É mais densa que o cometa e resistiria.

Não importa isto, para que as consequencias do choque as fizessem sentir em todo o mundo: os mares levantar-se-iam invadindo o sólo; as montanhas entrariam no centro da terra, enfim, por toda a parte a ruina e a desolação.

(...)

 p. 3 O cometa de Halley não é como se sabe, o mais antigamente conhecido.

Antigamente, pensava-se que os cometas eram astros errantes, vagabundos do espaço, “segundo a sua vontade”.

(...)

O cometa de Halley, foi o primeiro estudado scientificamente. Evola sobre um plano inclinado de 18 graus approximadamente sobre o plano que a terra percorre em torno do sol.

Sabe-se que, para que um encontro seja possivel, é necessario não só, que as duas curvas se cruzem, mas ainda que os dois astros cheguem ao mesmo tempo ao mesmo ponto de cruzamento.

(...)


Referência bibliográfica

[n.d.] - "O cometa de Halley - Informações tranquilisadoras" in Diário dos Açores de 9 de Abril de 1910, nº. 5636, p. 1-2 (col. 4-6; 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=620.



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Astronomia

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