Base de Dados CIUHCT

Divulgação Científica em Jornais



Texto da entrada (ID.655)

5º Em todas as depressões no hemispherio boreal o movimento giratorio do ar effectua-se no sentido inverso d’aquelle que seguem os ponteiros de um relogio.

6º Ser a força do vento entre dois pontos, tanto maior quanto maior for a differença da altura da columna barometrica, entre ellas, depois de tal altura ser reduzida ao mesmo nivel (o do mar) e temperatura. [1]

7º A aproximação ou o afastamento de uma depressão de qualquer logar ser tanto mais rapida, quanto mais rapidamente baixa ou sobe a columna barometrica.

8º Que, “se virarmos as costas ao vento, teremos a mais baixa pressão á esquerda e a mais alta pressão á direita” (lei de Buys Ballot).

Um exemplo mostrará a applicação dos mais importantes d’estes principios.

Supponhamos que temos na Europa tres logares A, B e C, situados respectivamente de oeste para leste, em latitude pouco differente, sendo A collocado mais ao norte e C mais ao sul, ficando B igualmente distanciado de A e C cêrca de 240 kilometros, o que succede nos Açores, com a Villa de Santa Cruz, na Ilha das Flores (A), e as cidades da Horta (B) ao Faial, e de Ponta Delgada (C) em S. Miguel.

De C queremos fazer a previsão do tempo, servindo-nos das observações meteorologicas feitas neste ponto, e das feitas em A e B.

Nos tres pontos observou-se á mesma hora local (a differença da hora entre A e B e B e C é muito pequena, só de 11 minutos) que o vento sopra do sul, e que a pressão atmospherica é de 760,5 millimetros em A, de 763 millimetros em B e de 764,5 millimetros em C.

Em virtude dos principios indicados sabemos:

1º Que ha tendencia para a aproximação de uma depressão, pois a pressão atmospherica decresce de C para A, sendo mesmo em C de 764,5 millimetros, portanto inferior á de 766 millimetros, pressão media na região considerada.

2º Que o centro da depressão paira aproximadamente a oeste dos alludidos pontos, visto que o vento é do sul (lei de Buys-Ballot).

3º Que entre A e B a differença de pressão é de 2,5 millimetros, e portanto, como estes dois pontos ficam distanciados aproximadamente  240 kilometros, o gradient é de cerca de 1 millimetro, e por motivo analogo de 7 decimos de millimetro o gradient entre B e C, devendo por isso ir augmentando a força do vento de A para C.

No dia immediato o vento continua do sul nos tres pontos, mas as pressões diminuiram, sendo de 749 millimetros em A, de 757,5 millimetros em B e de 762 millimetros em C.

Vemos por estes elementos que a depressão acima mencionada se aproxima rapidamente (baixa rapida do barometro), com probabilidade de haver ventos tempestuosos em toda a região, considerada, pois já entre A e B o gradient é de 4 millimetros  e de um pouco mais de 2 entre B e C.

Horas depois sabe-se telegraphicamente que em A ás 7 horas da manhã o vento rondou do sul por sueste para leste, vento tempestuoso, e que o barometro começou então a subir rapidamente, tendo chegado ao minimo de 730 millimetros.

Á mesma hora a pressão em B era de 741 millimetros, e o vento lessueste, e em C a pressão de 650 millimetros, com vento do sul. O gradient entre A e B é, pois, de 5 millimetros, e de 4 entre B e C.

O salto do vento do sul para oeste, e o começo da subida do barometro em A, são as primeiras indicações que nos permittem prever que a depressão, cujo centro passou ás 7 horas da manhã por um ponto proximo de A, d’elle se vae afastando na direcção de B, e que provavelmente a tempestade não passará perto d’este ponto, ou por elle, antes de 1 hora da tarde (imaginando que ella se desloca com a velocidade da translação de 40 kilometros por hora, velocidade que já é grande), e cerca das 7 horas da noite por C.

O que mais agora interessa saber em C é quando o barometro cessa de descer em B, ali ronda o vento, e em que direcção.

Ás 2 horas da tarde sabemos que acaba o vento de rondar em B de lessueste para nordeste, pelo leste, e que o barometro logo começou a subir rapidamente, tendo chegado ao minimo de 727 millimetros.

A tal hora o vento em C é do sul, e a pressão atmospherica de 740 millimetros, portanto o gradient entre B e C de 6 millimetros.

Com estes elementos concluimos:

1º que a velocidade de translação da tempestade foi de cerca de 34 kilometros por hora, visto que em 7 horas percorreu a distancia de 240 kilometros, que separa A de B.

2º Que o centro da depressão passou mais proximo de B do que de A, o que conhecemos por ter o barometro indicado n’este ultimo ponto uma pressão (730 millimetros) superior á indicada em B (727 millimetros).

3º Que a tempestade passou ao sul de A e de B, porquanto em ambos os pontos o vento rondou quando o centro da depressão se começou a afastar (começo da subida barometrica) do sul e do lessueste para o oeste e nordeste (lei de Buys Ballot).

Continua pois a confirmar-se a previsão feita, e assim é de esperar que a tempestade passe por C d’ahi a poucas horas, e que o vento aumente de intensidade, pois o gradient tem crescido.

Ás seis horas e meia da tarde começou a subir rapidamente o barometro em C, soprando então o vento com grande violencia, rondando o vento do sul para noroeste pelo oeste, tendo o barometro indicado a pressão minima de 725 millimetros.

Sabemos assim:

1º Que a velocidade de translação da tempestade foi menor entre A e B do que entre B e C (35 kilometros por hora n’este caso).

2º Que a trajectoria da tempestadae se desviou para nordeste, pois o vento, que em A e B rondou no sentido inverso aos dos ponteiros de um relogio, em C rondou naquelle sentido, seguindo por isso, a tempestade ao norte de C (lei de Buys Ballot).

3º Que o centro da depressão se aproximou mais de C do que de A ou B (minima barometrica de 725 millimetros), mas que não passou por C, pois a assim succeder devia ter-se ali observado a passagem do vento por todos os quadrantes, o que não succedeu, tendo só ido do sul até noroeste.

Como todos estes elementos meteorologicos são telegraphados para as estações meteorologicas do continente europeu, e dos Estados Unidos, ás quaes importa conhecer a situação atmospherica de tão importante região do Atlantico, como a dos Açores, ficam ellas sabedoras de tal situação, que algumas vezes combinada com a de outros pontos do Atlantico, e da Europa, lhes permitte fazer com segurança a respectiva previsão do tempo, para os seus paizes, e para o Atlantico.

Continua

 

[1] A unidade de distancia empregada em meteorologia para esta differença de altura barometrica é a de um grau de esfera terrestre (cerca de 111 kilometros), e tal differença para esta distancia chama-se gradient. Assim, se entre dois pontos afastados de 333 kilometros a differença barometrica fôr de 6 millimetros, o gradient  é de 2.

Um gradient superior a 3 millimetros indica vento tempestuoso.


Referência bibliográfica

Francisco Afonso Chaves - "Previsão do Tempo - Relatorio acerca do serviço meteorologico dos Açores durante o anno de 1904 " in Diário dos Açores de 14 de Maio de 1910, nº. 5665, p. 1 (col. 1-3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=655.



Detalhes


Nome do Jornal


Mostrar detalhes do Jornal

Número

Ano Mês Dia Semana


Título(s) do Artigo


Título

Género de Artigo
Transcrição
Relatorio Oficial
Com comentários

Nome do Autor Tipo de Autor


Página(s) Localização do Artigo na(s) página(s)


Tema
Astronomia
Ciênias da Terra

Palavras Chave


Notícia