Base de Dados CIUHCT

Divulgação Científica em Jornais



Texto da entrada (ID.657)

Na sala “Algarve” da Sociedade de Geographia, realisou uma interessantissima conferencia sobre o cometa de Halley, o distincto astronomo açoreano, sr. tenente Mello e Simas, que esteve alguns annos n’esta ilha, conferencia promovida pela Academia de Sciencias de Portugal, assistindo, além de grande numero de academicos, bastantes socios d’aquella Sociedade, muitas senhoras e uma verdadeira multidão de pessoas das classes sociais mais illustradas.

Presidiu o sr. dr. Theophilo Braga, secretariado pelos srs. Antonio Cabreira e Levy Bensabat.

(...) ( as conclusões foram as seguintes:)

Ha realmente bastantes probabilidades de que a Terra atravesse a cauda do cometa de Halley; mas que, mesmo admittindo como certa e segura essa travessia, d’ahi não resulta para nós o menor inconveniente. Muitos imaginam que no dia 19 verão o astro em toda a sua magnificencia. É um engano. Nós nem daremos por semelhante facto.

Em seguida descreve qual deve ser a constituição de um cometa, à luz dos modernos processos scientificos; mostrando que os effeitos que haveria de esperar poderiam ser de tres ordens: mechanicos, calorificos e chimicos, ou melhor physiologicos.

Os primeiros consideram-se nullos ou quasi nullos, porque a massa dos cometas é infinitamente pequena, e essa mesma, no proprio nucleo, está extremamente dividida, de modo que ainda que a Terra fosse chocada  por aquelle nucleo, o que está muito longe de ser o caso actual, nem isso seria prejudicial para nós, manifestando-se-nos apenas sob a forma inoffensiva de uma chuva de estrellas cadentes. E se não passaria d’isso, no caso mais desfavoralvel, conclue que seria realmente extravagante temer qualquer accidente passando o nucleo a 23 milhões de kilometros da nossa terra. As caudas cometarias são quasi immateriaes, e teriamos tanto a recear da sua approximação como se não passassem de simples illusões opticas, isso é, nada.

Referindo-se aos effeitos calorificos diz que pela mesma razão da insignificancia da massa, o calor armazenado deve tambem ser extremamente pouco, visto que só a materia o armazena, e que se tivessemos para aquecer-nos só o calor do cometa, correriamos sérios riscos de morrer gelados.

Pelo que respeita á acção de gazes deleterios sobre o nosso organismo, diz que n’aquelles astros não ha gazes taes como os observamos á superficie da Terra, a sua existencia seria incompativel com a insignificancia da força attrativa d’aquelles cosmos celestes. Mas ainda que os houvesse, a sua densidade seria tão diminuta que teriamos a proteger-nos a espessa couraça formada pela nossa propria atmosphera. O ar que respiramos, em presença dos materiaes de que se compõem aquellas caudas, é mais compacto de que o aço comparado com a nossa atmosphera. Temer pois qualquer perigo da travessia pela cauda de um cometa, seria tão ridiculo como estar n’um quarto forrado com paredes de aço de kilometros de espessura, e receiosos de que o vento nos viesse perturbar, ou que particulas arrastadas por este vento atravessassem os póros de todo aquelle aço e viessem produzir acções toxicas sobre o nosso organismo.

Expondo muito summariamente as theorias das caudas cometarias estabelece as relaçõs entre esse phenomeno e o das nossas auroras boreaes, especie de cauda rudimentar do globo terrestre, concluindo assim que se elles tivessem alguma acção nefasta sobre os organismos vivos, então a vida nunca teria existido á superficie da Terra.

Termina assim a parte verdadeiramente technica da sua exposição communicando que das suas ultimas observações, n’estes ultimos dias, parece inferir se que a cauda do cometa não chegará a attingir a extensão sufficiente para alcançar a Terra no dia 19, não fazendo essa communicação logo de começo para não tirar o interesse ao assumpto.

Passa em seguida rapidamente sobre a historia do cometa Halley, cuja primeira identificação remonta ao anno 467, antes de Christo, citando alguns factos notaveis e curiosos relacionados com apparições d’este astro, e fazendo notar que a successão das ideias que acolheram essas diversas apparições, constitue, por assim dizer, a historia da evolução intellectual, notando-se, mais ou menos distinctamente, a passagem do espirito theologico ao metaphysico e, por ultimo, ao positivo.

Indicando, finalmente, o principio da unidade das causas e leis reguladoras de todas as manifestações da Natureza, quer sejam mechanicas, physicas, ou mesmo naturaes ou psychicas, termina por se admirar como annos e annos de observação do nosso meio individual, não tivessem dado ainda a experiencia sufficiente para notar que a nullidade, a mediocridade ou  a inutilidade, nunca tiveram outro meio comparativo que não fosse o espalhafato apparente, forçado ou imbecil, da sua propria ostentação.

O sr. Mello e Simas ao terminar a sua notavel conferencia, foi alvo de uma calorosa ovação por parte da assembleia.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "O cometa de Halley - A conferencia promovida pela Academia das Sciencias de Portugal" in Diário dos Açores de 14 de Maio de 1910, nº. 5665, p. 2 (col. 4-6). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=657.



Detalhes


Nome do Jornal


Mostrar detalhes do Jornal

Número

Ano Mês Dia Semana


Título(s) do Artigo


Título

Género de Artigo
Notícia Original

Nome do Autor Tipo de Autor


Página(s) Localização do Artigo na(s) página(s)


Tema
Astronomia

Congresso
Palavras Chave


Notícia