D’aqui a alguns centenares de annos, não existirá já a Peninsula Iberica, Hespanha e Portugal, segundo o affirma um geologo francez; estão destinados a transformarem-se em uma só ilha, visto que as futuras convulsões terrestres hão-de fazer desapparecer no Oceano toda a parte meridional da França, ficando assim as duas nações circundadas pelo mar.

A responsabilidade d’esta espantosa transformação deverá caber aos vulcões que tanto dão já que falar na actualidade e que pelo visto vão ter no futuro uma grande acção.

Os que viverem n’aquella epocha terão de assistir, segundo as affirmações do geologo Moreaux, a collossaes mudanças no aspecto da crosta terrestre, sendo a Europa o ponto que especialmente soffrerá essas transformações.

A peninsula Iberica não mudará sensivelmente na sua estructura exterior. Continuarão as cousas como até aqui, e a configuração do territorio será a mesma. Sómente, para lá dos Pyrenneus e em consequencia da desapparição do sul da França, poderá succeder, entre outras cousas, que Confranc se converta em porto de mar, havendo tambem com certeza a lamentar a desapparição total das ilhas Baleares, engulidas pelo Mediterraneo.

Á França, succederá o ficar reduzida a metade. Paris desapparece do mappa, assim como extensos territorios d’aquelle paiz. Os francezes preoccupam-se muito agora com a idéa da construcção de um canal que una o Atlantico com o Mediterraneo através da sua nação, para evitar d’esta maneira o ter que passar pelo estreito de Gibraltar e inutilisar assim a Inglaterra.

Aguardam os francezes com paciencia o futuro, que este se encarregará da almejada transformação. Um terremoto se encarregará d’esse trabalho, ficando o canal francez traçado e feito que nem de encomenda!...

A Inglaterra e os outros paizes não ficam todavia a vêr arder as barbas do visinho sem maior incommodo. A Inglaterra desapparecerá do globo. A Allemanha que se queixa agora de ter um limitado territorio para população tão densa como a Germania, para castigo das suas ambições, ainda ficará reduzida a proporções menores. A Russia verá as suas immensas “steppes” invadidad pelas aguas. Quanto à Italia, como está soffrendo já bastante, não terá então grandes modificações.

Com excepção da França, como dissemos feita em pedaços pelas convulsões  terrestres, o futuro será da raça latina que novamente conseguirá o predominio, visto Portugal, Italia e Hespanha se conservarem integras, ao passo que os inglezes, saxões e slavos, não ficam com um palmo de terreno.

Parece tudo isto a phantasia d’um “blaugueur” emerito e afinal o geologo Moreaux affirma que as suas previsões são fundadas em observações scientificas de grande importancia.

O certo é que as suas theorias ultrapassam em imprevisto aquella de Flammarion segundo a qual os terremotos são devidos ás infiltrações do Oceano no interior do globo terraqueo, que por estar em ignição, devolva aquellas massas de agua em estado de vapor, tendo este para sahir de rasgar a crosta terrestre, originando assim aquellas temerosas convulsões que se denominam terremotos.

Segundo Moreaux, a terra que ao principio tinha luz propria e que actualmente a recebe do sol, vae arrefecendo a pouco e pouco. Em consequencia d’este resfriamento que augmenta de anno para anno, a Terra vae mudando de fórma. Antigamente era completamente redonda; agora apresenta superficies planas nos seus dois polos. A Terra vae adquirindo a fórma pyramidal por causa do seu progressivo resfriamento. Se o leitor reparar n’um globo que se esvasia poderá notar esse mesmo phenomeno. Primeiramente deprime-se a parte superior e simultaneamente a massa espherica restante, vae se transformando em secções planas que constituem uma forma pyramidal.

Assim succederá à Terra. Terá aspecto identico ao d’uma das pyramides do Egypto, mas invertida. Eis o caso: as arestas da pyramide serão assim como que uma secção lineal do globo terraqueo em que se transforma o seu feitio arredondado anterior; e isso como é natural produzirá a consequente alteração geologica; da mesma forma que se fôrmos arrepanhando pregos n’um globo cheio... o estoiro não se fará esperar!

E eis aqui o que espera o globo terraqueo – d’aqui a algumas centenas de annos.

Não veremos pois, a transformação, que aliás obrigará a humanidade a bem terríveis solavancos e correspondente sobresaltos.