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Texto da entrada (ID.807)

No 20º congresso de medicos alienistas e neurologistas de lingua franceza que, ha dias se reuniu em Bruxellas, sob a dupla presidencia do dr. Klippal, de Paris, e do dr. Crocq, d’aquella cidade belga, os relatorios do alcoolismo e da criminalidade, considerados nos seus varios aspectos, deram logar a discussões acaloradas.

No emtanto, todos reconheceram que o alcoolismo é um dos principaes factores da criminalidade, sendo por isso edificante  o saber-se até que ponto ella diminue, desde que um paiz prohibe a producção ou suspende temporariamente a venda do alcool, e tambem o quanto são frequentes os crimes entre marido e mulher devidos a crises de ciume produzidas pelo abuso de tal bebida, que é origem das allucinações que conduzem ao crime.

Demais, se bem que a descendencia dos alcoolicos seja mais numerosa, está todavia sujeita a uma mortalidade infantil tão elevada, que podemos considerar a natalidade dos alcoolicos como inteiramente nulla. Os raros sobreviventes são os futuros hospedes dos hospitaes, dos asylos e das cadeias.

A maior parte dos meios preconizados pelas diversas nações são: ensino anti-alcoolico, a abstinencia completa, a prohibição e o monopolio do alcool, a opção local para a prohibição absoluta ou temporaria da venda do alcool, casas de bebidas e sociedades que tomam sob a  sua direcção moral os bebedores curados.

Por fim, apresentaram-se estes dois pareceres. O primeiro, preconisando a abstinencia completa até o ponto de se banir o alcool, seja qual fôr a forma sob que se apresente; vinho, cerveja, cidra, licores ou bebidas espirituosas, não só para os enfermos em tratamento, mas tambem para o pessoal e medicos de serviço. P. 2 A outra, tendo por base a liberdade individual, não admittindo portanto nenhuma forma comdemnatoria.

Effectivamente, muitos medicos oriundos de regiões vinicolas affirmaram que, nas suas provincias, o alcoolismo era desconhecido emquanto se fazia uso exclusivo de vinha e que só apparecia quando se adquiria o habito de ingerir o alcool sob a forma de aperitivos, etc.

No exercito, segundo se affirmou no alludido congresso, o alcoolismo e a criminalidade teem decrescido, em consequencia das medidas adoptadas para tal fim: ensino ant-alcoolico, interdição de bebidas alcoolicas na caserna, etc.

Os inqueritos feitos com cuidadosa minucia demonstram não ser  no quartel que o soldado se embriaga, mas sim nas tabernas circumvizinhas e que torna evidente a necessidade de o isolarem de taes logares.

Finalmente, d’este inquerito conclue-se tambem que muitissimos soldados alcoolicos acabam na alienação mental, devendo, n’estas circunstancias, ser tratados e não punidos.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Congresso de medicos alienistas - O alcoolismo" in Diário dos Açores de 7 de Outubro de 1910, nº. 5784, p. 1-2 (col. 6; 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=807.



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