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Texto da entrada (ID.891)

No nosso meio, profundamente indolente, é raro levar-se a cabo uma iniciativa arrojada que demande alguma força de vontade e um certo grau de tenacidade.

Parece que o famigerado azorean torpor nos tolhe os membros, quando se trata de vencer dificuldades e se tenha de fazer desaparecer obstaculos pela persistencia.

(...)

É por certo esta indiferença e inação que nos caracterisa, devidas sem duvida ao nosso clima prosternativo, em conjuncto com o esquecimento e desleixo dos governos, a verdadeira causa de não termos no importante liceu d’esta cidade um laboratorio de quimica. E isto sucede, apesar de alguns anos de trabalho constante, de altos esforços desenvolvidos pela nossa mocidade estudiosa que representam uma persistencia tenaz e activa no nosso meio, só concebivel nos novos.

Deve, porém, notar-se que não são só os academicos os empenhados n’esta empreza.

Dotar o edificio do nosso liceu d’um gabinete onde os estudantes se familiarizem com a quimica pratica e adquiram conhecimentos, não só com maior facilidade e menor esforço intelectual mas tambem com mais vantagens e aproveitamento, tem sido uma ideia latente, tanto no espirito do seu ilustrado Corpo Docente, como no da Academia.

Em vão se dispenderam alguns esforços para que o governo cedesse uma verba com a qual se construisse o almejado laboratorio.

Foi então que os proprios academicos tomaram a firme resolução de trabalhar por si mesmos, mas faltava-lhes um guia prudente que lhes desse uma orientação sensata.

Encontraram-no no seu ilustre professor de quimica o Exmo sr. dr. Jeremias da Costa que, reconhecendo a exiguidade de recursos do gabinete existente, secundou a ideia dos seus alunos e lhes deu o seu incondicional e valioso apoio.

Foi n’estas condições que ha dois anos se levou a efeito um bazar e o ano passado se promoveu uma Batalha de flores, sendo os seus resultados tão satisfatorios, que tanto aquele digno professor, como os alunos seus promotores foram louvados merecidamente pelo Ministerio da Instrução.

Com os donativos obtidos começaram as obras no nosso laboratorio que estariam quasi concluidas se esses fundos se não tivessem esgotado.

Deste modo, está em meio da sua construção o melhoramento do liceu mais desejado pelos seus professores e alumnos, porque, indubitavelmente, da sua aquisição resultaria um passo largo dado em se alcançar um certo aperfeiçoamento no ministramento da instrução no nosso primeiro estabelecimento de ensino.

É verdadeiramente lamentavel o estado do pequeno gabinete onde, presentemente, são facultadas algumas noções praticas de quimica no liceu d’esta cidade. Com uma pobreza de material excessiva, tem ainda a torna-lo mais defeituoso e deficiente, as pessimas condições de resguardo e conservação, porque até mesmo a propria agua das chuvas, penetrando no seu interior e escoando-se por frestas humidas, vem deteriorar os poucos aparelhos que lá existem.

É pois insofismavel e indiscutivel a necessidade d’esse melhoramento para o qual os academicos teem trabalhado incançadamente, necessidade que mais se evidencia e patenteia com o aparecimento dos trabalhos praticos d’algumas disciplinas, entre as quaes figura a quimica, no VII ano dos liceus.

Por emquanto, a frequencia d’esses exercicios praticos de reconhecida utilidade é facultativa, mas tornar-se-ha obrigatoria do proximo ano lectivo em deante.

No actual gabinete poucas experiencias podem ser realisadas e assim a bagagem de conhecimentos que um alumno do liceu adquire, será composta quasi exclusivamente de noções teoricas.

D’ahi advem, é claro, mais uma dificuldade mais um embaraço á assimilação que se tem a fazer, n’um futuro proximo nos estudos superiores.

É, pois, em face d’esta evidente carencia d’um laboratorio com instalações convenientes e material compativel com as exigencias do programa de quimica que os estudantes do nosso liceu se propõem realisar uma outra festa a fim de obterem a verba necessaria para a sua conclusão.

(...)

Ponta Delgada, 15-4-915.

A. B. S.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "O Laboratorio de quimica do Liceu" in Diário dos Açores de 16 de Abril de 1915, nº. 7104, p. 1 (col. 1-3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=891.



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