Um dos engenhos de guerra que mais serviços tem prestado n’esta lucta, em que tantas nações andam empenhadas, é sem duvida as auto-metralhadoras.
Conhece-se o papel saliente que as metralhadoras automoveis téem representado, papel varias vezes observado no que respeita á frente oriental.
A historia d’esta viatura de guerra merece ser contada. Em 1905, por ocasião da guerra da Manchuria, quando esta se achava no seu auge, a dirécção de uma fabrica construtora franceza de automoveis blindados, lembrou-se de escrever ao general comandante dos exercitos russos, fazendo-lhes a proposta de fabricar carruagens de guerra blindadas.
Dias depois a casa construtora recebia um telegrama, em que se lhe marcava uma entrevista em Moscow, para os dirétores da fabrica tratarem com um oficial russo da construção e condições dos carros blindados.
Em algumas horas tudo foi arranjado. Os dirétores da fabrica expozeram o plano que tinham concebido, submeteram á apreciação do general russo os desenhos e á tarde os mesmos dirétores partiam com uma encomenda de seus viaturas blindadas, das quaes, quatro com cupulas e metralhadoras e duas para o transporte das munições e do tesouro de guerra.
Os construtores puzeram imediatamente mãos à obra e quatro mezes depois a primeira carruagem de guerra procedia aos primeiros ensaios. Os resultados foram magnificos.
No contrato feito com o governo russo foi convencionado que a fabrica construtora não teria o direito de vender, antes da guerra, do modêlo aceito, senão á Russia e á França.
A carruagem tinha varias peças para funcionar, que a punham ao abrigo dos assaltantes. Logo que a metralhadora automovel entrava em ação, em uma zona perigosa, a frente fechava-se inteiramente, mas por um dispositivo especial, o condutor ficava com a vista livre.
Interiormente as carruagens são iluminadas elétricamente, visto ser necessario, em marcha, seguir o caminho sobre um mapa, vigiar a engrenagem e abrir os caixões dos projéteis. O veiculo em ordem de marcha não ultrapassa 2.700 kilos; o andamento é de 50 kilometros á hora. A 60 metros a bala da espingarda Lebel atravessa a blindagem, mas é inofensiva; a 150 metros penetrava, mas sem a atravessar e a 200 metros achatava-se.
É curioso o facto que se deu com a remessa d’essas carruagens blindadas para a Russia. Os quatro primeiros automoveis blindados chegaram sem incidente á Russia, mas os odois ultimos perderam-se na viagem através da Alemanha. Depois de varias reclamações, as carruagens foram encontradas n’um parque de artilharia em Berlim, estando uma já desmontada em parte.
A embaixada russa tratou de as rehaver e as duas carruagens foram, afinal, entregues.
O que não ha duvida é que os alemães aproveitaram o facto ocorrido, começando em breve a construir automoveis blindados, de que tão mortifero uso téem feito anualmente.
[n.d.] - "A conflagração europêa - As auto-metrelhadoras – O papel que elas representam na guerra"
in Diário dos Açores
de 8 de Maio de 1915, nº. 7123, p. 1 (col. 5). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=895.