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Texto da entrada (ID.954)

O estudo clinico das aguas da Ladeira da Velha foi feito para varias doenças e entre ellas para a lepra.

Não foi um estudo regular, os doentes não foram seguidos dia a dia, não foi fixada a duração, numero e mais condições dos banhos, etc. mas em trez annos successivos foram os doentes vistos antes de usarem os banhos, uma outra vez a meio proximamente da estação e finalmente outra no fim do tratamento, para se apreciarem os resultados. Nos casos de lepra, foi, alem d’isto, feito o exame bacteriologico antes e depois do tratamento.

Este estudo em que fui acompanhado pelo meu colega o sr. Dr. Antonio da Silva Cabral, fil-o a pedido da familia Pacheco e Castro proprietaria das aguas da Ladeira e esta publicou um relatorio sobre o assumto em que vem expresso o que pensamos da acção das aguas sobre a lepra e algumas outras doenças.

(...)

As aguas da Ladeira da Velha têm uma grande acção benefica sobre as manifestações cutaneas e mucosicas da lepra, mas nada fazem contra a infecção geral.

Realmente os doentes, sem excepção, depois do tratamento, apresentavam-se consideravelmente melhores dos symptomas cutaneos e das mucosas: lepromas diminuidos de volume; ulcerações cicatrizadas; conjuntivites e rhinites curadas, placas d’anesthesia reduzidas ou mesmo desaparecidas; algumas vezes pequenos pellos nas regiões alopsiadas; alguns casos em que as manifestações cutaneas eram recentes, com a aparencia de inteiramente curados e nos quaes era precisa a vista habituada para descobrir na coloração da pelle a terrivel lepra, mas insisados os lepromas e feito o exame bacteriologico encontrava-se, sensivelmente o mesmo numero de bacilos de Hansen por campo microscopico que antes do tratamento. A duração das melhoras referidas era variavel. Alguns doentes no anno seguinte conservavam-nas em grande parte. (uns melhoravam, mas tambem havia outros que morriam).

(...)

A lepra é uma infecção geral que nunca perdoa, que mata sempre independentemente do estado da pelle. Ha sem duvida, como em todas as infecções, casos de marcha arrastada e chronica que permitem ao doente uma vida relativamente longa, mas a lepra constitue uma ameaça permanente para o doente e sempre um perigo para quem o rodeia.

É uma doença traiçoeira porquanto sendo contagiosa não são ainda bem conhecidas as condições em que se faz o contagio, sendo possivel que como em outras doenças, este se faça não de homem para homem mas por meio de agentes intermediarios: moscas, pulgas, mosquitos ou outros e porque pode residir no individuo doente muitos annos (citam-se casos até 32 annos) sem que se manifeste.

É uma doença para a cura da qual tudo se tem experimentado e que não cura com cousa nenhuma.

(...)

É uma doença contra a qual o melhor que ha a fazer, no estado actual da sciencia, é o  mesmo que se fazia na edade medica e que ainda hoje se faz nas ilhas Sandwich, na Noruega e porventura n’algum outro paiz, que é o isolamento dos leprosos em gafarias ou hospitaes proprios.

A lepra segundo as differentes formas das suas manifestações tem sido classificada de: erythemosa, tuberculosa, anesthesica, nervosa, mutilante, etc. A classificação mais geralmente seguida é apenas em duas formas: forma anesthesica e forma tuberculosa; e ainda assim esta classificação tem apenas valor para o effeito do prognostico porquanto a forma anesthesica pura é quasi sempre de marcha mais cronica e nos primeiros periodos da doença, pois que para o fim, pelo apparecimento dos lepromas a forma anesthesica identifica-se com a forma tuberculosa.

(seguem-se sintomas e consequencias)

(...)

Posto isto apparece naturalmente a interrogação:

Devem usar-se as aguas da Ladeira Velha no tratamento da lepra?

A resposta não póde deixar de ser afirmativa.

Comquanto estas aguas não curem a lepra, aliviam consideravelmente os doentes melhorando-os das manifestações cutaneas mucosicas, obstando a complicações da ordem das acima indicadas. Estas manifestações voltam no fim d’um praso mais ou menos longo. Está pois indicado que se repita o tratamento emquanto o doente esteja em estado de o repetir, notando que sempre que o puder fazer ganhará alguma coisa em relação ao seu estado no começo do tratamento.

(isolamento dos doentes, destruição de insectos e outros parasitas)

Agosto de 1915

Jacintho Botelho Arruda


Referência bibliográfica

Jacintho Botelho Arruda - "Acção das aguas da Ladeira da Velha sobre a lepra" in Diário dos Açores de 17 de Setembro de 1915, nº. 7229, p. 1 (col. 1-3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=954.



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