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Texto da entrada (ID.957)

Saturno tem sido um planeta infeliz. Já os romanos tinham agoiro com ele, e os arabes lhe chamavam a “Grande fatalidade”; Victor Hugo cantou-lhe a malvadez em versos perfeitos.

Saturne, sphére enorme, astre aux aspects funébres.

Ha tres para quatro anos, um astronomo francez lembrou-se de dizer que os seus aneis, aquilo por que ele se distingue em todo o Universo, e porque se tornou tão conhecido, não existem, ou antes não existem como materia; seriam electrons irradiando do globo planetario. E, para o demonstrar, o sr. Birkeland, o astronomo de que se trata, realizou uma esperiencia curiosa, que consistiu em magnetizar fortemente uma esfera de 8 centimetros de diametro, fazendo depois passar uma corrente muito franca (de 1,10 de miliampére); viu produzir-se um anel luminoso, muit delgado, cujo aspéto lembrava o dos aneis de Saturno. Portanto, para ele, Saturno é um globo fortemente magnetico donde irradiam electrons que podem servir de receptores a ondas luminosas vindas do Sol.

Os sabios que acreditaram na constituição material dos aneis não se deram por vencidos, e sobre a hipotese de Birkeland choveram as objéções. – Ha a questão das sombras: Que o planeta projéte sombra sobre os aneis, compreendese, visto que ele é um globo opaco, mas que os aneis, caso sejam de natureza electro-magnetica; projétem sombra sobre o astro, é que não pode admitir-se. E no emtanto esse ha muito que tem sido observado. O plano dos aneis é inclinado sobre o da orbita planetaria, é o Sol ilumina ora uma das faces, ora a outra, quando o plano dos aneis, prolongado, deixa do mesmo lado a Terra e Sol, nós vemos bem a face iluminada; quando o mesmo plano passa entre a Terra e o Sol, o anel é-nos invisivel, mas quando ele passa pelo sol, nós só vemos o limite exterior do anel e uma facha sombria desenhada em Saturno, a qual não é mais do que a sombra pelo anel projétada. Todas estas observações de sombras mostram ainda que os aneis não teem luz propria, mas que se limitam a reflétir os raios que recebem do Sol.

Daqui tambem não pode inferir-se que os aneis sejam circulos solidos e compactos; demonstra a mecanica que a sua estabelidade não seria possivel. Supôz-se que eram gazosos, visto que, por uma ou outra vez, se tinha podido nenxergar o planeta atravez eles, mas a ausencia de refracção contraria essa hipotese. Julga-se então que sejam formados dum numero prodigioso de corpos solidos distinctos, que todos giram em torno de Saturno como intimos satélites, e com velocidade diferente para cada um conforme a distancia a que se encontram do centro de atracção. Assim se explica que em dados momentos possa vêr-se o planeta atravez dos aneis.

A analise espétroscopica veio tambem lançar alguma luz na questão. Provou-se que a velocidade nos aneis é maior do que a existente no planeta, mas decresce do interior para o exterior, eles não giram pois como se fossem formados duma só peça, à maneira dum corpo solido, mas sim como compostos de particulas independentes, cada uma das quais caminhasse com velocidade sua e em orbita especial.

As distancias entre os satélites que compõem os aneis devem ser, ainda assim, bastante grandes, visto que se tem conseguido vêr o planeta pelos respétivos intervalos; no entanto é dificil supôr que, entre tantos asteroides girando num espaço que comparado ás grandezas astronomicas é limitadissimo, não haja de vez em quando choques entre eles. Ora justamente, em 1911, um observador de Setif, na Argelia, viu que uma porção dos aneis estava notavelmente assombreada, e no dia seguinte se tinha tornado extremamente nitida. No ano seguinte, nos Estados Unidos, observou-se, junto a um dos extremos do anel exterior, uma fluorescencia brilhante desusada. Todos estes fenomenos foram atribuidos ao choque entre partes constitutivas do (p. 2) anel; o briho observado mostraria que esse choque levou os corpos ao estado de incandescencia.

As noites em Saturno devem ser lindas. Só luas lhe conhecemos dez, que todas batisámos com nomes mitologicos – Mimas, Enulado, Tethys, Dsine, Rhea, Titan, Themis, Hyperion, Japeto e Phebe. Junte-se-lhe a infinidade de luasinhas que entram na constituição dos aneis, e calcule-se o esplendido firmamento noturno de que gosam os Saturninos. E que delicia para os poetas, que não estão ali reduzidos, como os da terra, a ter só uma Lua com que comparem das suas amadas o encanto e a graça meiga.


Referência bibliográfica

F. Mira - "Os anneis de Saturno" in Diário dos Açores de 23 de Setembro de 1915, nº. 7234, p. 1-2 (col. 5-6; 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=957.



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Astronomia

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