O “Times” tem tido um dos seus colaboradores M. Ashmead Bartlett, a seguir com verdadeira minucia as operações dos Dardanelos.
(o artigo descreve os novos monitores de guerra empregados pela marinha ingleza)
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Ninguem diria que fosse o vapor que lhe imprimisse o movimento, antes parecendo que se baloiçava á flôr das ondas como um pato gordo.
Era impossivel a distancia, dizer se o viamos por detraz, ou se se apresentava de prôa ou ré, visto como tinha o aspéto de ser completamente redondo. Na coberta, inteiramente raza, não se podia divizar mais do que uma pujante torre de onde assomavam dois canhões de comprimento e diametro descomunais, entanto que á parte central, ao modo de uma arvore gigantesca de qualquer floresta californiana se erguia um reforçadissimo tripé estriado, suportando uma especie de boceta para joias, de forma alongada.
Muito a custo, e enveredando mal, aquela coisa lá abriu caminho atravez do porto atravancado, deitando, por ultimo, ferro, ante a curiosidade insofreavel dos milhares de olhos que a contemplavam. Nunca ninguem vira nada que se assemelhasse áquilo.
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Saltámos para uns escaleres, a fim de examinar de mais perto aquele estranho fenomeno, e logramos então descobrir que, mesmo abaixo da superficie liquida, os flancos do referido objéto se envasavam cerca de três metros, recurvando à parte de baixo e assim formando uma plataforma batida somente pelas ondas.
É nisso que reside o mistério e o segredo de tais navios. Foi esse envasamento que o autor, concentrou todo o seu engenho para vencer os submarinos. Quando um torpedo embarra no flanco do navio, explude no meio de varias substancias que me não é permitido revelar e os casco do monitor fica indene.
Esses enorme monitores não levam como armamento mais do que dois canhões de 350 milimetros e alguns canhões de caça aerea. São espaçosos e confortaveis, ao contrario do que sucede com os seus mais pequenos visinhos. Em velocidade deixam muito a desejar, por causa da sua forma estranha; obedecem mal ao governo, mas o facto é desculpavel por estarem ainda na infancia,e não deixam de ser interessantes pelo facto de já neles se vêr o germen do que provavelmente será o navio de guerra do futuro.
Os canhões que os novos monitores comportam rugem de um modo tremendo e projétam 750 quilogramas de metal à distancia de 24 quilometros. Logo a seguir chegaram tres outros dos citados monstros, o que representava o total de oito canhões de 350 milimetros, para bombardear as posições inimigas, ao passo que os balões e os aeroplanos lhes indicavam os pontos a atingir.
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Os avantajados monitores são firmes como rochas sobre o mar; mas não se dirá que as equipagens lá vivam em leito de rosas, pois que a poeira do carvão penetra por todos os lados e quasi se torna impossivel mantel-os em estado de asseio.
[n.d.] - "A conflagração europêa - Progressos da marinha ingleza - O que são os seus novos monitores - Impressões de um jornalista"
in Diário dos Açores
de 19 de Novembro de 1915, nº. 7281, p. 1 (col. 4-6). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=981.