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Texto da entrada (ID.984)

A industria do frio, que entre nós está operando uma verdadeira revolução no campo das ciencias aplicadas, tem ultimamente assumido no estrangeiro uma importancia enorme. Na pratica, o frio industrial presta hoje serviços relevantissimos, tornando-se um agente indispensavel hoje a varias industrias, que o utilizam com maravilhosos resultados.

Sabe-se que o frio industrial é produzido, geralmente, pela vaporização instantanea de certos gazes liquefeitos, e anhidrose, em condutas que, sendo de metal, facilmente roubam o calor e distribuem, portanto, o frio a compartimentos e aparelhos onde ele é necessario. As ditas condutas são fechadas num circulo continuo, não se perdendo assim os gazes; estes são aspirados por uma maquina que os comprime e de novo liquefaz, e donde se tornam a expandir, produzindo novamente frio.

O gaz quasi exclusivamente usado na America, onde o valor dos frigorificos existentes era, ha tempo, superior a um milhão de contos de réis, é a amonia, tambem geralmente usada na Inglaterra, na Belgica, etc. A temperatura critica da amonia é de 131 graus centigrados, ao passo que a do anhidrido carbonico é de 31 graus. Com as aguas de que dispomos em Portugal, a 20 e 22 graus, saindo do condensador da maquina a 27 e 28 graus, o anhidrido carbonico eleva a muito mais a despeza da agua e da energia que a amonia.

São incalculaveis as vantagens que para a higiene proveem do emprego frio. É o agente de maior alcance de que as nações verdadeiramente civilizadas se servem para bem da saude publica, empregando na sua aplicação quasi dois milhões de contos. Só na America do Norte, ha oitenta mil vagons frigorificos grandes, que levam a toda a parte os produtos refrigerados. A marinha mercante ingleza, só para exclusivo transporte de generos alimenticios, possue treze grandes vapores.

Desde que o sabio Pasteur indicou a conveniencia de conservar a baixa temperatura as cubas de fermentação da cerveja, as respétivas fabricas adotaram o uso de maquinas frigorificas. Nas cervejarias da Baviera, da Holanda e da Dinamarca funcionam algumas desde 1875; e de então para cá o frio operou rapidas e numerosas conquistas no campo industrial. Emprega-se hoje, por exemplo, nas fabricas de chocolate para despegar o chocolate das formas. Tambem se emprega o frio em todas as fabricas de seda artificial, nas estearinas e nas margarinas, nas de cautchu para o fabrico da chamada folha ingleza, nas de côres, perfumes, cólas e gelatinas, na fabricação de varios produtos terapeuticos, nos altos fornos de desecar o vento etc. tambem se emprega na fabricação de bombons e bolachas, na preparação de carnes e salmoiras, etc.

O frio artificial aplica-se, ha anos, em algumas fabricas de vinhos de champagne para tirar o sedimento; um fabricante de vinhos de quina emprega-o para clarificar os caldos, e na Italia é empregado na fabricação de “vermouths”.

Pela ação prolongada do frio, podem-se envelhecer artificialmente os vinhos e concentrá-los, e um dos congressistas de Viena declarou servir-se dum processo analogo para preparar leite em pó, submetendo o liquido 20 graus abaixo de zero e agitando-o. As partes nutritivas do leite congelam-se antes que a agua, podendo então separar-se desta.

A qualidade dos queijos de Roquefort deve-se a uma fermentação operada em coavs naturais muito frescas, e tem-se verificado que mediante o frio artificial, só pode melhorar e regularizar a qualidade do produto. Tambem se aplica vantajosamente o frio ao fabrico doutros queijos, como o Camembert e o queijo azul de Ain (França).

A industria queijeira e manteigueira tem-se transformado por completo, nestes ultimos anos, com o emprego do frio artificial, porque, graças a ele, se póde, entre outras coisas, garantir o abastecimento de grandes cidades com leite procedente de regiões muito distantes.

Em Berlim, por exemplo, vende-se leite de algumas povoações dinamarquezas, que ficam 500 ou 600 kilometros afastadas daquela importante cidade.

A refrigeração nas fabricas de manteiga serve para imprimir consistentemente à massa e para esfriar a nata e conserval-a muito tempo.

A conservação das substancias alimenticias, uma das mais antigas aplicações do frio, é, comtudo, a menos desenvolvida ainda, apesar de ser a que maior campo de exploração oferece.

O emprego dos armarios frigorificos para a conservação das carnes, aves e alimentos diversos, cada vez se torna mais amplo no comercio de comestiveis, nos hoteis e restaurantes e já alguns comerciantes, compreendendo que o emprego do gelo sai mais caro, se valem hoje de maquinas frigorificas movidas por elétricidade.

Na Inglaterra, é grande a importação de carnes idas d’America por meio do frio. Em 1909, foram assim importados 500 mil bois e dois milhões de carneiros procedentes da Argentina e da Australia. O comercio de aves tambem utiliza o frio. Muitos negociantes de Paris e de outras grandes capitais instalaram amplos depositos frigorificos, onde se guardam as pecas recem-mortas para se irem expedindo á medida que os vendedores as pedem.

(na America refrigeram-se frutas e legumes, na Alemanha flores)

O frio tem aplicações biologicas. M. Pezibram apresentou no Congresso resultados obtidos submetendo a temperaturas varias (de – 20 graus a – 15 graus), n’um laboratorio de Viena denominado “Vivarium”, diversos organismos vivos. A ação do frio produz efeitos curiosos taes como a mudança de pele, a contração dos membros, o aumento de peso, etc. O frio tende a abandonar-se como agente anesthesico, mas em compensação pode ser empregado como agente curativo. Segundo M. H. Lorenz, o grande frio exerce no tratamento de certos abcessos ou tumores a mesma ação exercida pelos raios Roetgen ou pelo radio, e o dr. Query expoz no congresso os excelentes resultados obtidos durante dois anos no tratamento pelo ar liquido de certas doenças da pele, taes como o eczema, a pelada e as verrugas.

(em França há já 420 fábricas de gelo).


Referência bibliográfica

[n.d.] - "A industria do frio - Os seus progressos – As suas aplicações" in Diário dos Açores de 25 de Novembro de 1915, nº. 7286, p. 1 (col. 4-5). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=984.



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